Partilhe esta Página



Total de visitas: 3497
Reptições Inconscientes
Reptições Inconscientes

 

Desde o nascimento e durante a infância, principalmente, as representações do que se passa com as crianças são por elas interpretadas através de um sentido, um significado. Antes da escolarização, essas experiências vêm de seu ambiente familiar. A criança observa, sente, dá um sentido e tudo é registrado no psiquismo. Os significados que são dados a cada experiência são influenciados por como a criança compreende as relações em sua família e como ela enxerga a si mesma nessas relações.

 Os registros psíquicos da infância são esquecidos e se tornam inconscientes, mas não foram apagados, foram esquecidos e continuam presentes. A partir dos significados das relações com sua família, consigo e com o mundo (ambiente) registrados, a criança irá sentir e agir em suas demais relações. A criança não pensa: “Quando eu passei por tal situação, eu senti isso, e pensei isso, então é melhor eu pensar de outra forma”. Tampouco, o adulto pensa: “Quando eu era criança eu senti e pensei tal coisa e por isso eu me relaciono de determinada forma”. Isso não acontece, pois o conteúdo representado pelo ser humano na infância se torna esquecido e presente no Inconsciente, o que implica em um não acesso direto a ele.

 Assim, as relações que se vive na infância, juntamente com suas representações, são repetidas nas relações posteriores. O que acontece é que, a partir da pré-adolescência, o modo como as pessoas sentem e agem em situações específicas é determinado por situações semelhantes que foram passadas na infância. Como exemplo ilustrativo: na relação com seus pais, em uma situação específica, a criança se sentiu excluída por não ter tido a atenção que queria e isso teve forte impacto e, assim, ocupou no espaço psíquico de “sentir-se excluída na relação com os pais”. A partir daí, devido ao impacto da representação, sempre que a pessoa estiver numa situação em que não tenha a atenção que acha que precisa, ela poderá sentir-se excluída, como repetição do que houve na infância.

 A partir de questões impactantes como a desse exemplo, ainda quando criança, ela pode formar sintomas. Hipoteticamente, nesse caso, a criança poderia criar uma forma de superar esse sentimento por começar, de forma inconsciente, a querer agradar os pais sempre e, posteriormente, agradar a todos para que não seja (sinta que é) excluída e, então, sentir-se aceita. E esse se torna seu modo de estar e se relacionar no mundo. Nesse caso, agradar o outro pode provocar consequências diversas como, por exemplo, desvalorizar-se sempre em prol do outro, se relacionar com a intenção de ser aceita etc.. Mas, a pessoa não se dá conta, porque todos os significados de relações estão registrados no Inconsciente. Talvez perceba, em algum momento, que pode haver algo errado ou estranho em suas relações ou consigo, mas muitas vezes não irá perceber o motivo e, talvez, isso nunca seja pensado, mas pode provocar sofrimento interno. A pessoa sofre e não percebe, ou percebe, mas não entende o que a motiva a pensar e agir dessa maneira e, muitas vezes, não consegue mudar e acaba sempre repetindo o mesmo modelo Inconsciente. 

 O objeto de investigação da Psicanálise é o Inconsciente: o que está velado, esquecido, oculto, não dito e que faz com que a pessoa repita suas relações infantis na vida adulta e que pode leva-la a sofrer. São os registros mais profundos do psiquismo. Não existe limite de idade para fazer análise e deve-se considerar que não há um tempo específico para trabalhar aspectos e conflitos inconscientes; cada um tem o seu. Quando partes desse conteúdo oculto são reveladas à consciência, através das técnicas de trabalho da Psicanálise, a pessoa pode ter a oportunidade de ressignificar situações e sentimentos impactantes representados na infância e desconstruir o sofrimento.